Só há uma coisa pior do que não ser o escolhido para a tão sonhada posição: saber que você é muito melhor do que a pessoa que foi escolhida.
Nem sempre os melhores profissionais ou, os mais preparados tecnicamente, são os escolhidos, mas, aqueles que conseguem se vender melhor através de comunicação, postura e reputação.
Estamos diante de uma ciência; uma arte, não aprendida por pelo menos 95% dos profissionais do mundo moderno. Algo que se mistura com Personal Branding, Social Selling, reputação, no entanto, nenhum desses conceitos conseguem dar conta do recado.
A maioria das pessoas acreditam que pra ter a atenção do seus ouvintes, levando-os de um bate papo a uma ação: seja para uma venda, para uma vaga de emprego ou para uma promoção, basta falar bonito, saber o que está falando, mostrar dados e, voilà, a mágica acontece.
Não sei como dizer isso, mas, vai aí a verdade nua e crua: não é tão simples assim. Não é assim que a comunicação funciona.
E é justamente por não conhecer os processos dessa arte que muita gente, anos a fio, vem perdendo oportunidades, vendas, promoções e até relacionamentos.
Eu vou te detalhar tudo pra você mandar essa “má sorte” pra casa do chapéu de uma vez por todas, mas, antes, preciso te contar um causo sobre umas coisas que ouvi no inicio de minha carreira…
“Se quiser se dar bem na Faria Lima parceiro, tem que ser faca na caveira, matar um leão por dia, ter faca nos dentes, sangue nos olhos e desenrolar o rolo”.
Ouvi isso de um amigo que foi meu mentor há uns bons anos. Confesso que quando ouvi, achei meio tosco; engraçado, mas, não demorei pra compreender o que todas essas metáforas queriam dizer.
Se você não é de São Paulo ou do mundo corporativo, não deve fazer ideia do significa “se dar bem na Faria Lima”.
Relaxa que te explico.
A Faria Lima é uma “região” nobre na zona oeste de São Paulo que abriga o coração financeiro do país. Lá os salários são mais altos, as empresas são ricas e tem um dos metros quadrados mais caros da cidade.
Em lugares como esse, as posições são disputadíssimas, o clima por resultado é tenso e a concorrência é alta — é briga pra cachorro grande (ah, vai. Essa você sabe).
Pra fazer carreira e se dar bem em ambientes corporativos assim, acreditar que basta ter um currículo okay é um dos mitos que acabam atrapalhando as pessoas de conseguirem o que sonham.
Ué, mas ter um currículo top não é importante?
Sem dúvida nenhuma, é e faz parte do processo. Porém, se não quiser ser mais um, ainda mais importante que ter um belo currículo, você tem que ser bom.
Porém, como “ser bom” é mais uma metáfora que diz muita coisa, mas não mostra o caminho, assim como os conselhos de meu antigo mentor, vou decifrar essas alegorias junto contigo e te contar algumas coisas que seu chefe nem o pessoal do RH contam.
O QUE NINGUÉM COSTUMA TE CONTAR
O jogo corporativo exige pelo menos duas coisas: profissionais que sabem jogar com as regras embaixo do braço e que sejam antifrágeis.
E tudo bem você perguntar que regras são essas e o que significa ser antifrágil!
A resposta é: depende no tocante as regras, e, sobre o que é ser um profissional Antifrágil, te respondo rápido e primeiro.
Ainda ouvimos muito sobre a importância de ser alguém Resiliente, e de fato é importante. Porém, se quiser jogar em alto nível, não basta só resiliência, tem que ter Antifragilidade.
Segundo Taleb, O antifrágil está para além do resiliente. O resiliente resiste aos choques e permanece o mesmo; o antifrágil aperfeiçoa-se.
No jogo corporativo você precisa ser antifrágil e evoluir a cada lance. Em ciclos rápidos e contínuos: se expor, errar, aprender, se expor novamente.
Entendido o conceito de Antifragilidade, vamos as regras.
Lembra que disse que sobre as regras ia depender não é?!
Sim, as regras mudam dependendo de onde você está. O varejo tem suas regras, o setor econômico tem a suas, de bens de consumo também, igualmente o de serviços, ou seja, cada empresa tem políticas, menos ou mais agressiva que outras.
A REGRA NÃO É CLARA ARNALDO
É melhor explicar o Arnaldo aí, vai que tu num é chegado a futebol.
Arnaldo Cesar Coelho é um comentarista de arbitragem e ex- árbitro de futebol que imortalizou o bordão: ‘a regra é clara‘.
Não no jogo corporativo, infelizmente nele, nem sempre a regra é tão clara.
Não estão escritas na parede do escritório, não estão definidas em um caderno de valores, ou mesmo são discutidas abertamente. Elas são vividas e experienciadas na prática.
Jogar com as regras debaixo do braço é saber quais são as estratégias que norteiam sua companhia: o que vem em primeiro lugar: O lucro? Os clientes? Gerar mais resultados? Desenvolver as pessoas? Cuidar da segurança?
Ou tudo isso junto, mais sem priorização?
Sei que acabou de pensar sobre a empresa em que trabalha.
E aí, foi fácil responder quais são as regras?
Ainda tá confuso? Permita-me exemplificar…
Jack Welch, o aclamado ex-CEO da General Eletric, adotava a regra de gestão por meritocracia 20/70/10, que se baseava no princípio…
- Premiar os 20% melhores;
- Manter os 70% que compõem a média;
- Demitir os 10% de pior desempenho.
Sem discutir o mérito de certo ou errado, as regras percebidas eram: se quiser ganhar mais dinheiro (acho que é algo que todo mundo quer) seja parte dos 20% melhores, se quiser manter o emprego fuja da faixa dos 10% piores.
Essa estratégia funciona? Claro que sim, mas, como efeitos colaterais.
Por parte do CEO, a estratégia era gerar crescimento do negócio, motivar as pessoas a se superarem sempre e tirar da empresa os mais fracos, oxigenando sempre as cadeiras.
Na prática, a cultura era de jogadores em carreira solo, que pra não serem canibalizados, canibalizam seus opositores e tomavam decisões baseadas em curto prazo. Sem falar nos muitos casos de burnout.
Ou seja, o CEO adotou uma estratégia, mas, a cultura vigente era outra.
Cultura é aquilo que os líderes fazem no dia a dia e como se comportam nos bastidores.
O grande Drucker já dizia que “A Cultura come a Estratégia no café da manhã”, todos os dias.
NAS EMPRESAS ATUAIS A DANÇA É DIFERENTE?
No case do GE, a estratégia estava definida, mas, as regras nem tanto.
Tá, pode ser que alguém falasse alguma coisa, escrevesse na parede missão, visão e valores, entretanto, a cultura… no café da manhã lembra?!
Em tempos “mais modernos”, em 90% das empresas, o resultado é mandatório, tem que ter lucro, lógico, não é filantropia.
Contudo, não pode ser a qualquer custo.
No momento que você entregar o resultado terá que olhar para trás e ver a quantidade de corpos que ficaram pelo chão, o quanto foi deselegante pra conseguir o que queria e por cima de que valores passou.
Isso é ótimo.
O que obriga os profissionais modernos a desenvolverem muito mais que habilidades técnicas, chamadas de hard skills (geralmente aprendidas na academia), mas também, Soft Skills, habilidades comportamentais (não ensinadas na academia).
Coisas como: inteligência política para relacionar-se, foco na solução e não no problema, capacidade de negociação, poder de comunicação, leitura de ambiente, liderança e etc…
Agora, se quiser se dar bem de verdade e não sofrer as decepções que falamos ao iniciar o texto, tem algumas coisas que você precisa se atentar e que não são ensinadas em nenhuma faculdade do planeta.
Você precisa cuidar de sua imagem corporativa.
SABER DISSO VAI TE DEIXAR AINDA MAIS CHATEADO, OU NÃO!
Você pode até tá meio puto agora se questionando, ou melhor me questionando dizendo:
— Perai, você disse que pra se dar bem, além de um currículo bacana, tem que decifrar as regras, ter um monte de habilidades Soft e, agora tá dizendo que ainda tem mais coisas?
Estou. E ouso dizer que isso é ainda mais importante que tudo que falamos antes.
Força, não desiste ainda…
Na Faria Lima parceiro, tens que ser bom, pois, a concorrência é briga pra cachorro… Ah, já falei isso aqui. Desculpa!
Quando meu mentor me disse que tinha que ser faca na caveira, matar um leão por dia, ter faca nos dentes, sangue nos olhos e desenrolar o rolo, o que ele estava querendo dizer é que o profissional de alto nível tem que estar atento e se reinventar o tempo todo.
Essa reinvenção está intimamente ligada a quem você é, e, como transita, não só no mundo físico (mas também nele), mas, especialmente no virtual.
Você é medido por aquilo que compartilha e o que deixa de compartilhar, pelas pessoas que se associa e pelas que não se associa, pela forma que se veste e pela postura corporal, pelo repertório que tem ou pela falta dele, pela forma que expõe suas ideias e pelo que cala.
E tudo isso junto e ao mesmo tempo.
Você gostando ou não, sua reputação é construída em torno disso. É a forma como as pessoas te percebem, e é o que vai garantir ou não sua acensão corporativa.
CHEGOU A HORA DE TE DAR O CAMINHO DAS PEDRAS
Como prometido, antes de encerrar o texto vou te detalhar o processo, afinal, se você chegou até aqui é porque não é qualquer um.
Ou está querendo reverter o jogo ou quer discordar do que escrevi até agora.
Os dois são bem-vindos e agradeço a honra de tê-los aqui.
Como agradecimento quero deixar cinco coisas imprescindíveis pra nunca mais ter alguém pior que você assumindo uma posição que era pra ser sua.
Adianto que o grande segredo que você esperava até agora, está no tópico 5. Contudo, se você for ansioso e já ir direto, vai querer voltar e ler os 4 anteriores…
1- PRESENÇA DIGITAL
No mundo novo, não há possibilidade de você não ter presença digital. Estar presente na rede, e, a forma como você a utiliza, diz muito sobre seu perfil.
Não estar presente nas redes também diz muito sobre seu perfil.
Mesmo não gostando de redes sociais, meu conselho é que você esteja lá. Pelo menos nas principais: LinkedIn e Instagram.
Além de estar, marque presença, faça curadoria de bons conteúdos e compartilhe com sua rede, enfim, seja um cara legal.
Evite entrar em polêmicas, seja cordial com todos e lembre-se que não existe mundo virtual e físico, você a junção dos dois. Assim, capriche na foto do perfil e evite expor qualquer coisa que não te ajude a construir sua reputação.
Se fizer direitinho, ter presença digital poderá ajudar muito na construção de sua imagem e reputação profissional.
2 – IMAGEM (APARÊNCIA)
As aparências realmente importam?
Só se você quiser ter uma carreira bem-sucedida.
As aparências importam e muito. Não pense que seu chefe, o chefe do seu chefe, seus pares e gestores de outras áreas não notam como se veste. Todo mundo nota.
Se atente no mínimo para o Dress Code de sua área. Nada de camisas velhas e rotas, compre sapatos legais, ajuste suas calças, capriche no sorriso e aumente assim sua autoconfiança.
Aquele papo de que a primeira impressão é a que fica, é uma verdade, logo, esteja sempre bem arrumado. Nunca se sabe o dia que encontrará seu cavalo da sorte.
3 – REPERTÓRIO
A sua venda pessoal não acontece quando está trabalhando duro, entregando planilhas e revendo números.
O momento que a promoção acontece é nos corredores, no café, no elevador, no almoço ou quando é convidado para aquela reunião de liderança, porque foi quem criou o material incrível que será apresentado.
Portanto meu caro (a), cuide do repertório para conseguir encantar as pessoas com um diálogo inteligente, atualizado e agradável. Às vezes, você só terá dois minutos com o CEO ou com seu diretor, se prepare para ter a pergunta chave que o fará se lembrar de você.
Seu repertório é o conjunto de coisas que você estudou, estuda, ouve e compartilha, logo, nem preciso dizer que diariamente você deve ouvir podcasts, ler bons livros e artigos e conversar com quem tem conteúdo e repertório.
4 – NETWORKING
Geralmente, quem te catapulta ao próximo nível são as pessoas com quem você se associa. Sua rede de contatos.
Mesmo que você consiga impressionar o CEO ou o diretor, ele irá fazer uma pesquisa boca a boca para saber como as pessoas te veem. Seja para te promover ou demitir.
Além de perguntar sobre você para seu chefe, falará também com os pares de seu chefe, com seus clientes internos e até com o pessoal da recepção e limpeza.
Seja gentil e parceiro de todos, mas, não só por isso, e sim porque temos a obrigação de tratar bem e ajudar todas as pessoas, cuide de sua rede.
Ajude a todos com tarefas que você domina. Se te pedirem ajuda, só recuse se não tiver mesmo como ajudar, mas não sem antes dar uma boa explicação.
5- INTELIGÊNCIA COMUNICATIVA
Essa habilidade é uma arte, e por isso deixei ela por último.
Atenção para o que eu vou falar: antes mesmo de você abrir a boca, a sua imagem já está comunicando.
Na hora da conversa, no mindset do seu interlocutor, já está sua reputação digital e física, o quão você se veste bem ou mal, sua postura, o quanto você é interessante do ponto de vista de vocabulário/repertório, quem são as pessoas que endossam você, ou seja, seu networking e só então é levando em conta seu poder comunicação.
Não é que o cara não vai te ouvir, talvez ele ouça.
O que muda quando você já cuidou dos quatro pilares anteriores é a forma que ele vai te ouvir, quanto tempo você terá e que importância vai dar ao que você disse.
A inteligência comunicativa é a sua imagem construída somada a arte de saber se comunicar, quando comunicar, e, o que comunicar.
***
Se dar bem na Faria Lima não é tão difícil quanto parece, você só precisa matar um leão por dia, ter faca nos dentes, sangue nos olhos, ser faca na caveira e desenrolar o rolo.
E aí, encara ou pede pra sair?
Até à próxima!
Achiles Rodrigues