O custo e o benefício de ser quem você é! Um papo sobre coragem

2017 está indo… 27 de dezembro é o dia em que escrevo essas linhas. É comum, pelo menos pra mim, fazer um balanço do ano que se vai. O que perdi e o que ganhei, quem se foi e quem me veio. O que aprendi ou o que deixei de aprender…

A gente não percebe, mas ao longo do ano os fracassos, acertos, as companhias, os livros, as comidas, enfim; o viver vai nos transformando. Terminamos o ciclo de 365 dias outras pessoas. Com mais ou menos bagagem em nosso repertório. Tudo depende de como vivemos.

Aliás, viver é muito perigoso. Era o que dizia Riobaldo, narrador e personagem do romance Grande sertão veredas, de Guimarães Rosa. Para ele, estar em vida é estar em curso, como um rio. Mas como cunhou com muita assertividade o pensador pré-socrático Heráclito de Éfeso:

“Ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio, pois quando retorna a ele, as águas são outras e você também já não é mais o mesmo.”

E assim estamos nós de novo diante da incontestável verdade da mudança que a vida nos causa. Como uma ostra para se ver livre do incômodo do grão de areia transforma-o em pérola, a vida nos garante boas crises para nos deixar mais fortes e belos.

Não é isso que acontece também com a lagarta?

A lagarta passa por uma transformaçãouma crise ou crisálida (crisálida é a forma intermediaria entre a lagarta e a borboleta)…

… Após atingir a fase de pupa, depois de várias mudanças de pele, o animal usa fios de seda para construir um casulo. A larva fica em total repouso por um período que varia de uma semana a um mês e os tecidos do seu corpo vão se modificando. Quando menos se espera, a borboleta rompe o casulo e libera suas asas, ou seja, vence a crise e se apresenta com uma “roupagem” e uma nova missão: “encantar o mundo”.

Talvez você esteja chateado comigo por falar tanto sobre os dissabores da vida. É justo que esteja, uma vez que a vida é cheia de subjetividades e tratativas diferentes para casos e casos.

Não te julgo por ter uma visão mais romântica. É bem possível que o ano que está se retirando tenha sido bem mais gentil com você, e, independente de qualquer intempérie, deseja repetir tudo no próximo ano.

Tranquilo. O mestre Caetano já dizia:

“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”…

Cada um no seu cada um, não é mesmo?! (Viva o Zeca).

Não serei eu mais um a te dizer como deve viver sua vida meu parceiro. Em tempos de tanta exposição social já tem gente demais impondo regras sobre como devemos ser, falar, nos vestir, postar, lugares a frequentar e até com quem casar!

Mas nada novo não é! Sempre foi assim. A televisão e outras mídias, sempre ditaram moda, comportamento e cultura, mas parece que a coisa vem piorando com o aumento da conectividade.

Tem sempre uma modinha nova — cabelo, vocabulário, lugares, comidas, religiões, músicas, danças, hits, brinquedos e tantas outras. E se você não adere o sistema te faz sentir um alienado.

A verdade é que tem um montão de gente querendo dar pitaco em quem devemos ser.

Que coisa chata menino!

Temos que ter culhão, isso mesmo — CULHÃO para decidir não seguir a boiada e ser quem realmente somos. Coragem meu amigo (a)…

O mestre Raul trás na música poesia Por Quem Os Sinos Dobram o refrão perfeito para o nosso bate papo:

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz, coragem, coragem, eu sei que você pode mais

Ps.: mas a musica toda é sensacional. Curte ai e depois continue lendo o texto.

Obviamente, ao optar por viver da maneira que vivemos, é vital ter coragem pra assumir os riscos e as delícias da autenticidade.

Você já refletiu sobre quanto custou ser quem foi e os benefícios disso em 2017? Se sim, já decidiu se vai “abrir o bico” ou vai bancar a parada toda?

BALANÇO SOBRE GANHOS E PERDAS E COMPROMISSOS PARA O NOVO ANO

Este último ano foi bacana, errei para caramba, mas acertei bastante. Perdi contatos legais, mas conheci pessoas novas e interessantes. Procrastinei coisas importantes, mas priorizei outras que me fizeram feliz.

Deixei de falar eu te amo para muitas pessoas que deveria ter falado, no entanto disse para outras tantas que estiveram comigo.

Fui um bocó em varias situações, mas como disse o mestre Mandela:

“Eu nunca perdi na vida. Ou eu ganho ou aprendo”

Despeço-me de 2017 com a sensação de que poderia ter feito mais pelas pessoas (ou por mim?).

Deveria ter doado mais — meu tempo, meu dinheiro, meu abraço, meus ouvidos, meu carinho, minhas palavras.

Poderia ter trabalhado mais e melhor, estudado mais, beijado mais, chorado mais, tudo mais!

A reflexão é legítima, visto que o ano escorre por entre os dedos deixando um gostinho de que tudo passou muito rápido e fizemos muito pouco — é preciso ser intenso para não repetir no ano novinho que vem por ai as mesmas “falhas”…

De uma coisa estou certo

Não quero viver uma vida coisificada, onde coisas valem mais do que pessoas. Quero mais amizades e romances.

Não quero esconder meus sentimentos, quero ter direito a expô-los sem me preocupar com rótulos.

Não quero abraçar o egoísmo, quero muito ajudar as pessoa a superar os desafios da vida, e de graça.

Não quero ser um cara sério demais, quero me sentar em volta da mesa e falar besteiras, cair na gargalhada, mostrar mesmo os dentes sabe?!

Rir, sorrir, até chorar, inclusive dos meus próprios erros e quero poder dividi-los com gente de confiança.

Ah sim, sobre confiança — não quero viver a neurose de desconfiar de todos e sempre fazer cara de jogo para que não saibam o que penso, quero confiar nas pessoas, e, se me traírem, problema delas, enganaram a si mesmas, porque eu confiei.

Quero ler mais poesias daquelas que mudam a nossa vida, como essa que escreveu o gênio Goethe:

“Para ser o que sou hoje, fui vários homens e, se volto a encontrar-me com os homens que fui, não me envergonho deles. Foram etapas do que sou.

Tudo o que sei custou as dores das experiências. Tenho respeito pelos que procuram, pelos que tateiam, pelos que erram. E, o que é mais importante, estou persuadido de que minha luz se extinguiria se eu fosse o único a possuí-la.”

Somente você pode saber o custo e o benefício de ser quem você é.

A vida é mesmo assim, feita de sabores e dissabores, encontros e desencontros, idas e vindas, sucessos e fracassos. Quando estiver muito cansado, aprenda a descansar, e não a desistir.

O segredo do sucesso pessoal está dentro de você. No autoconhecimento.

Não corra atrás das borboletas. Cuide do seu jardim para que elas venham até você.

Até a próxima!

Achiles Rodrigues