Jesus era subversivo, por isso nunca foi a uma igreja nem andou com religiosos

Na tentativa de domesticar a Deus, a religião aventura-se em explicá-lo.

Neste labor, empenha-se em definí-lo, o que é absurdamente insano, pois, Deus não cabe em explicações, teoremas, teses, dogmas ou doutrinas. Ele transborda a capacidade racional humana.

Ainda pior que isso, a religião tem a presunção de construir templos, na tentativa de aprisionar a Deus.

Tenho até a impressão de que não fazem por mal, “gostam” tanto da divindade que desejam colocá-la em gaiolas, e assim, quem sabe, conseguem um deus escravo para realizar suas vontades e/ou lucrar com esse pseudo aprisionamento!

O que não é nenhuma novidade. Essa é uma ideia antiga.

O apóstolo Pedro já havia tentando, quando, no monte da transfiguração, ao ver Jesus transfigurado junto a Moisés e Elias, sugeriu que tendas fossem construídas para que por ali ficassem (Mateus 17.4).

O próximo passo de Pedro, certamente seria; tornar aquele monte um local de peregrinação, mas, não sem antes instalar uma catraca para cobrança de um singelo “pedágio”, mas com a melhor das intenções, é claro (“sempre é”)!

JESUS NUNCA FOI A IGREJA, POR UM MOTIVO SIMPLES!

Uma vez ele até tentou ir, mas não passou do pátio.

Lá, ele já se deparou com o comércio da religião: um monte de gente vendendo bençãos em nome de deus (João 2. 13-22).

Qualquer semelhança com os dia atuais não é mera coincidência.

Antes de prosseguir, é preciso dizer que a igreja daquela época era um pouco diferente de como é hoje:

Era um templo judaico, destinado a sacrifícios de animais para remissão de pecados e orações. A igreja como é hoje em dia, o Jesus histórico nunca a concebeu, ou mesmo conheceu. Ela é pós morte de Jesus, organizado por Paulo (Saulo de Tarso) e outros apóstolos, mas, esse é um assunto para outra hora…

Jesus, o Deus encarnado, não estava no templo, apesar de os religiosos afirmarem que ele lá estava.

A maior chateação dele, estava no fato que o templo deveria ser casa de oração e ajuda para todos, contudo havia se tornado num antro de ladrões (palavras do próprio JC em Mateus 21.13).

Mas qualquer semelhança.. Ah, deixa pra lá, você já sabe…

SE ELE NÃO ESTAVA NA IGREJA, ONDE ELE ESTAVA ENTÃO?

Que bom que perguntou!

Jesus estava no meio do povo. Sempre, entre os mais humildes…

JC (JC pros mais íntimos okay!) gostava mesmo era de gente. E dos mais simples. Vivia na casa de um e de outro contando histórias e comendo bolo, biscoito de goma, tomando café e bebendo vinho. A ponto de uma galera chamá-lo de comilão e beberrão (Lucas 7.34).

Coisa de gente invejosa saca!

Lucas, o médico e historiador, no capitulo 15 do evangelho que leva seu nome, onde encontramos  três das mais lindas parábolas bíblicas: O bom pastor, o filho pródigo e a dracma perdida, descreve Jesus rodeado de gente da “pior qualidade”: publicanos e pecadores.

Que cara fantástico!!!

Tinha de tudo: marginais, trombadinhas, prostitutas, cachaceiros, viciados e toda espécie de gentes que os religiosos rotulavam (ou rotulam?) como sem salvação e afastadas de Deus.

E olha que legal: os pastores, padres e rabinos, que naquela época eram chamados de fariseus (os que interpretavam a bíblia), o criticaram duramente pelo fato de Jesus receber a esses e, ainda comer com eles.

Os caras não entendiam nada dos paranauês mesmo (e ainda hoje perecem não ter entendido).

A MENTIRA CONTADA PELA RELIGIÃO

Ainda hoje, os religiosos não só esperam que Jesus esteja no templo, mas garantem que ele está lá. Estático, engaiolado, a serviço de seus prazeres e desejos.

Ainda tem coragem de alegar que são os representantes ungidos do senhor. E, se alguém quiser alcançar a graça de Deus, devem estar debaixo de sua cobertura espiritual.

Balela!

Lutero neste momento “está se revolvendo no túmulo”.

A reforma protestante parece que de nada valeu (pra não falar em bíblia tá!).

Os esclarecimentos sobre o sacerdócio universal e todas as conquistas para que os cristãos vivessem a liberdade do evangelho foi por água abaixo.

Que incoerência no discurso da religião contemporânea.

Sim, pois a bíblia apresenta um Jesus Cristo que vai ao encontro de quem sofre, de quem tem sede, de quem está a margem.

Um homem/Deus que chora quando um amigo ou amiga sofre (João 11:33-35; João 11:38). Que gosta de crianças (Marcos 10:14), que da atenção as mulheres excluídas (João 4. 5-34)…

E tudo isso, fora do templo. Olha que coisa interessante:

Enquanto todos estavam no templo, orando, rezando e oferecendo seus sacrifícios, Deus estava nas ruas, nas casas, becos e vielas, atendendo a quem de fato importava e ainda importa para ele.

O templo, a igreja, a sinagoga, o salão, o terreiro ou suas variações, não são a casa de Deus. Ele mesmo, JC, disse que não habita em casas feitas por mãos de homens (Atos. 17.24).

Essas gaiolas são sustentadas por dogmas carregados de equívocos hermenêuticos e erros exegéticos, que na maior parte das vezes não representam a Deus.

A VERDADE BÍBLICA

No próprio capítulo 15 do evangelho do médico Lucas, Jesus é:

O bom pastor – que independente do motivo que levou uma ovelha a se afastar do rebanho, ele deixa todas no aprisco a vai em busca da ovelha perdida. Na rua, nos morros, nas valas, sacou?

O pai de um filho pródigo – que mesmo que o irmão do moço, seu filho mais velho, censure, critique, julgue-o; ele, o pai, recebe o filho esbanjador de volta e restitui tudo que perdeu. Sem nenhuma cobrança ou exigência, entende isso?

Uma mãe de família diligente – mesmo tendo mais nove moedas, acende a luz, afasta os móveis, varre toda a casa até encontrar a moeda que se perdeu. Não importa quantos tem, ele nunca abandono ninguém. Pegou essa?

Ou seja, todo o capitulo e, suas ricas parábolas, apontam para um Deus que é pai, amigo, pastor, cuidador.

Que sabe dar boas coisas para seus filhos. Infinitamente mais do que pode dar o melhor pai que possa ter nessa terra (Mateus 7. 7-14).

A RELIGIÃO É VERTICAL, DEUS É HORIZONTAL

Ao escrever esse texto, não falo contra a igreja. Pelo contrário. Igreja como conhecemos hoje é um “mal” necessário.

Permita-me explicar o “mal”!

Em certa medida, ela verticaliza o cristianismo. Produzindo cristãos egoístas, mimados, hipócritas e sem amor real pelo próximo…

E foi Jesus que disse que não há possibilidade de amar a Deus, que não vemos, sem amar o próximo que é quem vemos, a esse, ele chama de mentiroso (1 João 4. 20).

Vou falar algumas coisas aqui, mas sei que vou para a fogueira:

O amor verdadeiro a Deus, não se reflete necessariamente em beatismo religioso, mas em fazer o bem ao próximo:

Provérbios 19. 17 Quem dá aos pobres empresta a Deus, o qual virá a pagar com juros largamente vantajosos.

Thiago 1. 27 A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.

Lucas 6. 38 Dai, e darsevosá; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.

Cara, eu citaria mais uma centena de textos aqui, mas acho que já compreendeu né?!

Na verticalidade do evangelho, a galera alega servir a Deus, mas pouco estendem a mão para quem carece. Falam de deus, em nome dele, mas não dividem suas riquezas com quem nada tem. Despedem o miserável com frio, julgando-o como preguiçoso (Tiago 2).

Brigam uns com os outro por posições de destaque e riquesas. Ostentam carros de luxo, casas, tecnologia e etc.

Enquanto o conselho de Jesus foi não ajuntar tesouros nesta terra (Lucas 12. 33-34).

Se relacionam com Deus por medo de ir para o inferno ou por interesse nas benesses de um Deus que pode dar de tudo e ainda livrá-los dos males que acometem a todos, basta que vão a igreja e doem o dízimo…

Em um evangelho horizontal, eu mostro amor quando sigo a Deus amando o outro. Cuidando e respeitando meu semelhante… Simples assim.

MAS CLARO QUE A IGREJA É NECESSÁRIA

Isso não se pode negar. A reunião das pessoas em nome de Deus e a favor do oprimido, é algo poderoso. Vale dizer que ela, a igreja, faz um grande bem social ao ajudar os que sofrem, os mais simples e necessitados a encontrar sentido na vida.

Pois é, religião é também um sistema de sentido.

Através do discurso cristocêntrico, ela pode libertar o que está preso em vícios. Dar uma nova visão ao cego social. Apresentar um caminho de amor, paz e respeito.

Enfim, a igreja ainda se faz necessária, mas precisa ser reformada.

O problema não está exatamente na igreja ou no movimento religioso. O problema está nos homens que tentam enclausurar deus em gaiolas ideológicas.

Quando adota um discurso sem a verdadeira chave hermenêutica, que é Jesus. Sem o verdadeiro viés, escravizam o povo simples com jugos pesadíssimos, muitas vezes tirando o pouco que esses tem e, impedindo-os de viver a plenitude da vida com Deus, que é paz e alegria no Espírito (Romanos 14. 17).

ONDE ESTÁ DEUS NISSO TUDO?

No abraço, no beijo, na partilha, na amizade, na palavra de afeto, naquele que o invoca, nos botecos, nas vielas, nos semáforos, nas favelas, no estender da mão, na vida.

A igreja não é o templo. A igreja é a reunião/união de dois ou três em amor (Mateus 18. 20).

A igreja sou eu, é você, somos nós.

Jesus era subversivo, questionador, revolucionário, inquieto com os padrões egoístas de sua época.

Ele tomou partido, criticou, revelou a podridão do templo, a imundice ética dos líderes religiosos, a roubalheira dos poderosos.

Se aqui retornasse hoje, seria cruscificado de novo. Agora pelos religiosos do século 21. Que por medo de ver sua igrejas fecharem, diante de um discurso de tanto amor, desapego, partilha e comunhão, implementariam uma inquisição moderna para o ver crucificado ou queimado em praça pública como herege.

Eu sou a igreja, mas faço parte de uma comunidade de fé, onde desenvolvo minha espiritualidade em torno dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Lá me formo e formo também outros cristãos, para que saiam pelo mundo fazendo o bem e reverberando através de ações e comportamentos a graça do evangelho de Deus.

E você, como desenvolve sua espiritualidade?

Achiles Rodrigues