Coisas que a faculdade não ensina, mas o mundo corporativo cobra caro

Neste último fim de semana conversava deliciosamente com meu avô, ele contava-me sobre como era o mundo corporativo em sua época. Contar histórias e estórias é algo que ele gosta e eu, amo ouvi-las — são empolgantes, alegres, aumentadas descaradamente, mas carregadas de sabedoria aprendida no canivete (expressão dele).

Contava ele: No meu tempo a gente tinha que trabalhar desde muito cedo, com 12 ou 13 anos eu já entregava jornal, engraxava sapato, vendia picolé. Aos 14 tive meu primeiro registro na indústria. Começar cedo fez de mim um homem, com caráter e responsabilidades.

Já hoje, tá uma “veadagem” só (desculpem meu avô, depois dos 70, ele às vezes “esquece” das etiquetas). O menino não pode trabalhar antes de acabar os estudos — faz a graduação, mestrado, doutorado, inglês, e só depois vai trabalhar, quando chega ao mercado de trabalho já tem mais de 25 anos, todo bobão achando que o que ele aprendeu na faculdade é igual à prática, ai só faz M.

Fiquei matutando sobre tudo o que ele falou e sabe de uma coisa; guardada as devidas proporções, realmente faz sentido o que disse ele. Tem coisas que a academia não nos ensina mesmo e, somente a poeira da estrada corporativa pode imprimir em nós tal sapiência.

Quando saímos da faculdade achamos que estamos prontos, no entanto nos faltam competências que os americanos chamam de “soft skills”:

  • Tato e trato com as pessoas;
  • Inteligência emocional;
  • Liderança;
  • Trabalho em equipe;
  • Falar em público;
  • Negociar;
  • Ler pessoas e ambientes e outras tantas.

CONHECIMENTO NÃO É MAIS UM DIFERENCIAL

 

Conhecimento e habilidades técnicas já não são mais o grande skill de um profissional, seja de que área for. No passado talvez tenha sido, mas na era da informação o conhecimento está ao alcance de um clique, é só dar um Google e pronto, está tudo lá: apostilas, vídeos explicativos, artigos completos, cases de sucesso e até cursos gratuitos. Aprender nunca foi tão fácil.

É necessário cautela para não confundir conhecimento com sabedoria. “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”…

O filósofo alemão Friedrich Hegel em sua obra Filosofia do Direito ilustra a questão da sabedoria de maneira magistral, quando diz que:

“A coruja de Minerva alça seu voo somente ao entardecer”.

Minerva é uma deusa romana. Seu equivalente grego é Athena que é a deusa da sabedoria e da justiça, filha do poderoso Zeus. A coruja demonstra um alerta constante, é símbolo da vigilância, está sempre apta para sobreviver na noite e sempre atenta aos perigos da escuridão.

Essa é uma rica alegoria que aponta para uma sabedoria que só desabrocha com a experiência de vida. Diante deste viés, o jovem, quando sai da faculdade, pode até ser detentor de conhecimento, no entanto a sabedoria só virá com a maturidade. Ao entardecer.

O QUE A FACULDADE ENSINA E O QUE ELA NÃO ENSINA

 

A academia fornece conhecimento, informação, formação. Saímos dela e acreditamos que estamos prontos, no entanto, logo virão os primeiros desapontamentos, decepções, desencantos, desencontros…

…o chefe dissimulado, a rádio peão, o jogo de puxar tapetes, falta de acuracidade entre o que aprendeu na teoria e aquilo que se vive na prática.

As indagações começam a surgir — não consigo gerar mudanças, inovação da medo, meu diretor não me entende, o dono não quer investir, não acreditam nos números, o time não me ouve, os motoristas me enganam.

As Leis são um escândalo, nada funciona. Os custos não batem, a conta não fecha, as pessoas não fazem. O mercado não ajuda, a vendas não acontecem, a sazonalidade acaba com a programação, a estimativa é um fiasco, o planejamento nem se fala, etecetera, etecetera e etecetera…

COMO APRENDER ENTÃO O QUE NÃO SE APRENDE NA FACULDADE

 

Primeira coisa que você deve saber é que um diploma na parede não é garantia de sucesso profissional. Na prática o cenário muda totalmente. Por trás de cada medida, projeto, escolha, mudança, inovação, invenção, tem uma máquina sem manual difícil de mexer, de mover, de comover. Com sentimentos, cultura, desconfiança, implicância. Só de pirraça não ajuda, não faz, não informa, desinforma.

Permita-me dividir contigo um segredo, um macete; um achado: essa é a mais importante habilidade que você deve adquirir e se apegar caso queira sucesso profissional: relacionar-se bem com gente, pessoas, “hominídeos”. 

Lembra do que sua mãe te ensinou desde muito cedo sobre gente?

Não?

Eu te ajudo, ela te dizia — Nunca confie em estranhos, não aceite nada de estranhos.

Não foi só sua mãe que lhe ensinou isso, todas as outras mães também.

O que te faz pensar que alguém confiará, o ajudará, aceitará ou colaborará com você sem antes saberem quem você é, qual seu propósito, valores e desejos?

Bem vindo ao mundo real. Aqui é preciso desenvolver relacionamentos de confiança e parceria. Comece iluminando o caminho das pessoas que estão a sua volta. Assim você estará iluminado, uma vez que todos a sua volta terão luz.

Meu avô quando fala é pouco convencional, eu sei, mas já viveu muito, tropeçou muitas vezes, caiu em algumas delas, em outras foi lançado mais adiante, sofreu para aprender e hoje pode ensinar a partir daquilo que experienciou. Certamente perto de cada um de nós tem alguém assim, que possa nos transmitir ensinamentos.

Mais importante que começar cedo ou tarde no mundo corporativo, o que se torna mandatório é saber que existem coisas que só se aprende mesmo com a vivência na escola da vida.

Boa sorte!

Até a próxima!

Achiles Rodrigues